Dark Glass

Observe mais de perto.

Tem gente que só fala com você pra pedir favor. Tem gente que se aproveita da sua boa vontade. Tem gente que fica dizendo o tempo todo que morre de saudade de ti, mas nunca faz esforço algum pra te ver. Tem gente que fica dando palpite no que você veste (sem você ter perguntado). Tem gente que diz "não tenho preconceito, mas..". Tem gente que diz pra respeitarem sua religião, mas faz chacota do candomblé. Tem gente que nunca passou pelo que você está passando, e fica julgando suas decisões. Tem gente que ocupa a cadeira de um ônibus lotado com a bolsa. Tem gente que estaciona em vaga de deficiente. Tem gente que pisa no seu pé e não pede desculpas, apenas segue andando. Tem gente que come na sua casa e deixa a louça pra você lavar. Tem gente que não gosta de ti (e tudo bem), e não perde uma oportunidade de te mostrar isso. Tem gente que sempre procura defeito nas coisas que você faz pra te botar pra baixo. Tem gente que te trata mal por causa da sua aparência. Tem gente que aparece na hora do almoço sem avisar. Tem gente que te vê carregando 10 sacolas pesadas e não abre nem a porta do elevador. Tem gente que vê um idoso/grávida no ônibus e finge que tá dormindo. Tem gente que se convida e deixa a conta pra você pagar.

E você aí se incomodando com quem fala "top".

Uma das coisas consagradas pelo nosso querido e superficial senso comum é de que as meninas são, por natureza, mais organizadas e limpinhas. Como mulher, gostaria de lhes avisar que não nascemos com nenhum gene, hormônio ou qualquer elemento da nossa composição corporal que nos torne mais organizadas, perfumadas e comportadas. Na verdade, isso é dado como exemplo a ser seguido por nós logo que vamos crescendo e ficando "mocinhas" (ou até antes disso, quando nosso presente de Natal é uma pequena tábua de passar roupa, enquanto nosso irmãozinho ganha um robô que fala e voa). Portanto, gostaria de deixar claro que não somos naturalmente organizadas, espera-se que sejamos assim.

Logo, ainda que a maioria das mulheres que você conhece sejam mais organizadas e se importem mais com a limpeza da casa, compreendam que isso foi condicionado a elas como mulheres e foi inevitavelmente absorvido ao longo do tempo, muito antes das nossas bisavós Amélias. A organização feminina vem de anos de imposição cultural do que é o "dever da mulher". 
Então, você acha justo esperar que somente as mulheres sejam organizadas e que os homem não sejam por conta da "natureza deles"? 

Assim como fomos ensinadas a deixar tudo sempre limpinho e organizado, os homens também podem aderir a isso se lhes for ensinado e se eles perceberem isso, desde crianças, como um dever que é igualmente esperado deles.

Felizmente, tem reduzido o número de homens que deixam de aprender a cozinhar, limpar o chão e organizar a casa a espera de uma esposa que faça tudo isso pra ele. Mas a presença da mulher na cozinha, lavanderia, despensa e no quartinho do bebê continua muito forte e tido como uma característica natural da mulher.

Nem eu, nem minhas amigas, minha mãe, minhas tias ou minha avó gostamos de manter tudo sempre limpinho e organizado, assim como ninguém gosta de levar 5h da manhã para trabalhar (mas tem que ser feito, não é mesmo?). Mas sentimos isso como um dever só nosso como mulheres, mesmo que tenhamos autonomia e trabalhemos fora. Isso só é esperado de nós como as segundas mães dos nossos próprios maridos. 

Aposto que os maridos gostam tanto quanto nós de uma comida gostosa, lençóis perfumados e um chão onde se possa pisar de pés descalços. Pena que nenhuma dessas coisas se façam sozinhas. Os homens, ainda hoje, podem ficar aliviados, porque se os móveis estiverem cobertos de pó, culparão logo a mulher da casa. Afinal, [SARCASMO] como uma mulher não teve esse cuidado de zelar pela casa? O homem tudo bem, não é da natureza dele, os homens são assim mesmo! Mas a mulher? Que absurdo! [/SARCASMO] 

Lá vai minha dica de amiga, para mulheres e homens, pelo bem da harmonia de uma casa arrumada e feliz: embora a maioria das mulheres que você conhece sejam mais organizadas e "prendadas", não atribua essas características como inatas às mulheres. Quando você faz isso, você as generaliza e passa a diante (na sua casa, para a sociedade e para os seus filhos) a ideia de que as atribuições da casa são pertencentes ao universo feminino, tirando das costas do homem que, como qualquer um, também suja e também se sente bem em uma casa limpa e organizada, todo o sentimento de dever para com os afazeres domésticos. 

Ainda que você não diga, com todas as letras, que as atividades do lar sejam uma obrigação somente da mulher, inconscientemente você afirma isso ao esperar que uma mulher seja necessariamente prendada. Que se é mulher, ela provavelmente saberá cozinhar, lavar, passar, costurar e segurar o filho no colo. É com essa ideia, que aos poucos os deveres da casa vão sendo deixados pra quem sabe "fazer melhor", ou seja, para a mulher. Novamente teremos na sua casa, o mesmo modelo aplicado nos lares dos nossos ancestrais mais antigos e atuais.

Dentro da frase "hoje ajudei minha mulher nas tarefas de casa", está inclusa a ideia de que ele a ajudou em algo que era dever dela, percebeu? Então, desestufe o seu peito de orgulho e lave a louça, suas cuecas, faça a cama e mantenha sua mesa organizada. Como dizem, "não fez mais que a sua obrigação".

Existem diversos lados de uma mesma pessoa. Existe aquilo que mostramos ser e aquilo que não mostramos. Um lado nosso que conhecemos e outro que vamos descobrindo ao longo da vida. Existe alguém que somos só de vez em quando e alguém que somos na maioria das vezes. Aquilo que não mostramos quando não estamos confortáveis e o que mostramos quando nos sentimos confiantes a sermos nós mesmos.

Nossa identidade é múltipla, complexa e, muitas vezes, contraditória.
Uma mesma pessoa pode ser definida com os mais diversos adjetivos por diferentes pessoas. Somos interpretados segundo pontos de vista divergentes e em distintos contextos. O seu melhor amigo, por exemplo, pode ser considerado como desprezível por outro alguém.

O mais importante a refletirmos sobre isso é o quanto pode ser interessante começarmos a estar mais abertos a "reler" as pessoas, dar a elas uma nova chance de se mostrarem e a você, uma nova oportunidade de ganhar um amigo ou, no mínimo, viver alguns momentos agradáveis.

Quantas vezes você sentiu que foi mal interpretado e quis ter uma nova chance para mostrar que aquele não é você? Quantas vezes você se sentiu julgado precipitadamente? Quantas vezes você desejou voltar àquele momento para concertar algo que você disse ou fez e que te afastou de algumas pessoas?

Então, por que não permitir que outras pessoas mostrem a você um outro lado que você não conhecia? Por que não permitir que elas mostrem que talvez a sua ideia sobre elas pode estar errada?

Abra um espacinho pra que essas pessoas cheguem e deixe que elas imprimam novas impressões sobre elas mesmas. Você pode apenas concluir que, de fato, a companhia delas não lhe faz bem ou se surpreender descobrindo um novo lado daquelas pessoas.

Esse pode ser um bom exercício para reduzir seus julgamentos e preconceitos, ampliar seu ponto de vista para interpretar as pessoas e para te tornar uma pessoa mais receptiva e tolerante.

Acho que todos saem ganhando. Então, tente. ;)

p.s.: Não recomendo este exercício com ex-namoradxs, viu?

Quando perguntam: "Você pretende ser mãe?". E ela responde: "Claro!". Eu me pergunto..."Como assim 'claro!'? Isso não era pra ser uma opção?". Mas o que ela diz é perfeitamente justificável.
Logo que pequenas, um bebê de plástico é colocado nos nossos braços, afinal, toda menina gosta de brincar de ser mamãe.

Não ter filhos nunca foi uma opção pra nenhuma garota. Nós TEMOS que ter filhos pra suprir as expectativas de OUTRAS pessoas sobre o que é certo como a "ordem natural da vida". 
Felizmente, desde que saímos das cavernas e deixamos de plantar e caçar nossa própria comida, muitas mudanças ocorreram na vida humana. 

Métodos anticoncepcionais foram inventados e famílias se formaram com um melhor planejamento, diminuindo consideravelmente o número de filhos e melhorando a qualidade de vida deles e de seus pais. E sim! Desde este momento, já haviam aqueles que eram contra, porque mais uma vez, estávamos influindo no ciclo natural da vida. Mas o fato é que estas famílias se tornaram mais felizes assim, pois elas poderiam, elas mesmas, decidirem e terem um maior controle sobre o número de pequenos com os quais elas poderiam arcar, ao invés de deixarem que a natureza simplesmente seguisse seu curso com inúmeras gravidezes consecutivas.

Deste modo, o que temos atualmente são famílias cada vez menores, o que não é a toa. Com um número menor de filhos, os pais puderam dar mais atenção a cada um deles, e até conseguem ter mais tempo para eles próprios. Essa foi uma decisão que partiu deles, porque somente eles poderiam dizer o que era melhor a ser feito, tendo em vista que são eles que irão arcar com as responsabilidades de ter mais um membro na família. 

Hoje em dia, a probabilidade de que meu leitor discorde comigo nesse ponto é bem pequena, mesmo que alguns ainda achem que impedir uma gravidez é um ato egoísta que impede o surgimento de uma vida e que vai contra as leis da natureza, pensamentos vindos de quem estabelece o seu pensamento como verdade absoluta.

Ainda assim, não nos desligamos de outra verdade "inquestionável". A de que TEMOS que ter filhos, TEMOS que ser felizes com isso, e que uma mulher só será completa e realizada cumprindo seu papel na Terra e dando sentido a sua própria vida, uma vez que for mãe. Ou seja, ainda que existam tantas pessoas diferentes na face da Terra, TODAS, SEM EXCESSÃO, em especial as mulheres, só poderão chegar ao ápice da felicidade quando tiverem um filho (de preferência mais de um). Para as mulheres, ser mãe não é um opção, uma vontade. Uma mulher que não quer ser mãe é um monstro que só pensa em si mesmo, alguém que nunca será plenamente feliz, uma fracassada porque conquistou tantas coisas, mas não o mais importante. Ela não teve a capacidade de dar um único filho para o seu marido.

Para uma mãe, que se sentiu maravilhada ao ver aquelas mãozinhas se fechando no seu dedo na maternidade, pode ser difícil compreender como alguém poderia não querer viver aquilo. Mas é de extrema importância que a gente entenda, de uma vez por todas, que aquilo que nos faz feliz pode não fazer outras pessoas felizes! Só assim, nós poderemos aceitar e respeitar as pessoas que são diferentes de nós, bem como não julgar como certas ou erradas as escolhas que elas fazem sobre suas PRÓPRIAS vidas. Entendendo isso, podemos parar de sair cuspindo nas caras alheias nossas opiniões, dicas e conselhos, que não foram solicitados, referentes às nossas próprias expectativas sobre o que elas deveriam fazer para serem felizes. 

Não importa se essa pessoa é sua amiga, sua filha, sua nora, sua irmã, sua cunhada, sua tia. Cada um tem sua própria forma de ser feliz, e nenhuma delas tem a obrigação de suprir suas expectativas sobre ela. Deixe-a sentir a maternidade como uma opção e não como uma vontade instintiva que toda mulher tem, porque isso não é verdade! Nem toda mulher é ou será feliz como mãe, e nenhum filho deve ter uma mãe infeliz que não possa dar a ele o amor que ele merece. Não ter filhos quando não se quer ter filhos, não é egoísmo. É uma escolha que toda mulher tem o DIREITO de ter! Egoísmo é achar que uma mulher deve ter um filho só porque VOCÊ acredita que esse é o papel dela.

"Mas isso é porque você ainda não teve filhos". NÃO! Acredite, que uma pessoa, principalmente uma mulher, não diz "não quero ter filhos" assim de repente. A grande maioria das pessoas que fazem parte de uma minoria, tenta se encaixar na maioria primeiramente, porque ser diferente não é fácil. Uma menina que não brinca de boneca já pode se sentir estranha. Uma moça que não sente nenhuma forte emoção ao pegar um bebê no colo sente a necessidade de fingir um sorriso largo, porque ela sabe que é assim que ela, como mulher, "deveria" agir. Raramente alguém entrega um bebê no colo de um homem, a não ser que ele seja o pai, porque "eles não levam jeito", e é completamente aceitável que eles não se sintam confortáveis e entusiasmados com aquelas pessoinhas. Mas a mulher, pelo seu instinto materno, que já vem com ela, saberá exatamente o que fazer e como agir. Logo, quando uma mulher não sente esse instinto dentro dela, não imagine que ela ficará bem com isso. Provavelmente, ela fará de tudo pra encontrá-lo. O "Não quero ter filhos" vem quando ela finalmente se aceita e quem dera ela não precisasse se aceitar simplesmente por ser o que é, e por não poder suprir a expectativa que outras pessoas colocaram sobre ela e ainda serão projetadas sobre ela a cada oportunidade: "E os filhos? Quando eles vem?".

Você tem o direito de acreditar que os filhos são as melhores coisas que já aconteceram na sua vida. Ninguém duvida disso. Mas deixe que outras pessoas escolham o que é melhor pra elas. Entenda que somente elas saberão o que as faz feliz e que os filhos podem não fazer parte da vida que elas querem. Não fique impondo a sua opinião como verdade, guarde seus comentários lááá no fundo da gaveta.  Não "invada" o corpo de uma mulher, dizendo que ali deve crescer um bebê. Não ter filhos não é um erro, é uma escolha que você deve respeitar.

Certa vez, fazendo um teste no estilo "disparate dos anos 90" com um amigo, surgiu a questão que pedia que cada um contasse um problema pelo qual vinha passando e pedisse um conselho, assim haveria uma troca de confidências entre nós, ao mesmo tempo em que cada um se ajudaria em seguida.
Ele rapidamente contou o seu probleminha e pediu um conselho, minha opinião. Eu dei o conselho e fiquei aliviada porque não tive tempo pra falar sobre algum problema meu e pedir o conselho. Fiquei pensando em porque eu não queria falar sobre um dos meus problemas e muito menos pedir uma opinião sobre o que eu deveria fazer.
Por mais que eu odeie admitir, percebi que o motivo é que eu sei a solução pra pelo menos 90% dos meus problemas e todos eles envolvem a mim mesma. Boa parte dos meus problemas são causados pelas atitudes que eu não tomo, pelas coisas que eu não faço ou pelas coisas que eu não deveria fazer.

Existe uma vozinha dentro da gente gritando o que deveríamos fazer, mas muitas vezes é mais fácil ignorar e seguir na zona de conforto.
Admitir que somos nossos próprios "arqui-inimigos" é difícil, é doloroso. 

Nós muitas vezes sabemos o que deveríamos fazer, mas preferimos ouvir isso de outra pessoa, ou, no meu caso, esconder de todos que somos "vítimas" de nós mesmos. E é por isso que nunca peço conselhos, porque não quero ouvir de outra pessoa. Pedir por uma solução que eu já tenho.

Ouvir que não deu tempo porque adiei.
Ouvir que me aborreci porque não mantive a calma.
Ouvir que aquele dia não foi bom porque não fui receptiva às coisas boas.
Ouvir que aquilo não deu certo porque não me esforcei o suficiente.
Ouvir que as coisas não mudam porque não fiz nada de diferente...

As mudanças acontecem quando paramos de culpar os outros, o destino, o universo e o azar pelas coisas que nós próprios causamos. Doloroso é, e difícil sair da nossa zona de conforto também, mas nenhuma das coisas boas que mais queremos chegam até nós assim facinho. E no final das contas, é isso que torna tudo aquilo que conquistamos ainda mais grandioso, não é?

Em 2016, eu VOU fazer as coisas que eu já sei que deveria fazer. Mesmo que uma de cada vez, mesmo que com pequenos passos em frente, de pouquinho em pouquinho, vou admitindo e corrigindo meu grande e problemático arqui-inimigo.
Aceitando o que não posso mudar e tomando coragem para mudar o que posso, como dizem.

Apesar de ser difícil assumir que é você mesmo o problema, é muito bom saber que, afinal, tantas coisas são possíveis. Basta a gente querer e fazer! Não é inspirador? :)

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Olhe através dos vidros negros ..

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